Esclerose Múltipla

O que é a Esclerose Múltipla?

A Esclerose Múltipla é uma doença crónica, inflamatória e degenerativa, que afecta o Sistema Nervoso Central (SNC). É uma doença que surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, ou seja, entre os jovens adultos. Afecta com maior incidência as mulheres do que os homens.

Esta patologia é diagnosticada a partir de uma combinação de sintomas e da evolução que a doença apresenta na pessoa afectada, com recurso a exames clínicos/exames complementares de diagnóstico (Ressonância Magnética Nuclear, Estudo de Potenciais Evocados e Punção Lombar).

Estima-se que em todo o mundo existam cerca de 2.500.000 pessoas com Esclerose Múltipla (dados da Organização Mundial da Saúde) e em Portugal mais de 8.000 (Gisela Kobelt, 2009).

A Esclerose Múltipla pode produzir sintomas idênticos aos de outras patologias do SNC, pelo que o diagnóstico poderá demorar anos a acontecer.

O que causa a Esclerose Múltipla?

Apesar das grandes pesquisas efectuadas, ainda não sabemos quais são as causas da Esclerose Múltipla. Mas existem algumas ideias sobre os factores que podem ser responsáveis.

  • Factor ambiental
    Para começar, a Esclerose Múltipla não ocorre com a mesma frequência em todos os países do mundo. A Esclerose Múltipla afecta em especial as pessoas de raça branca, na Europa, América do Norte e Austrália (figura 3). As diferenças não são tão acentuadas como se pensava anteriormente, mas sabemos hoje que tanto no Hemisfério Norte como no Hemisfério Sul, a Esclerose Múltipla é tanto mais frequente quanto mais afastado do equador está o país. No passado foram realizados estudos sobre os efeitos da emigração. A Esclerose Múltipla ocorre com frequência relativamente menor em países como Israel e África do Sul e com frequência relativamente superior em Inglaterra. Aparentemente, as pessoas mais idosas que emigram têm as mesmas probabilidades de sofrer de Esclerose Múltipla do que se permanecessem nos seus países de origem.

figura3Mas as crianças que emigram têm as mesmas probabilidades de vir a sofrer de Esclerose Múltipla que as pessoas que sempre viveram no país para o qual as crianças emigraram. Parece existir um ponto de viragem por volta dos quinze anos de idade que influencia os riscos de contrair Esclerose Múltipla. Por isso, pensa-se que o meio ambiente em que as pessoas vivem pode ter algo a ver com o desenvolvimento da Esclerose Múltipla.

  • Vírus
    Em segundo lugar, foram realizadas muitas pesquisas sobre as possíveis ligações entre Esclerose Múltipla e toda a espécie de vírus, talvez algum tipo de doença viral contraída na infância. Mas até ao momento não foram encontradas provas seguras da existência de um vírus específico responsável pela Esclerose Múltipla. Existem algumas teorias sobre a influência da dieta nas probabilidades de contrair Esclerose Múltipla, mas a ligação não é muito clara.
  • Factor hereditário
    Em terceiro lugar, sabemos que a Esclerose Múltipla é, até certo ponto, hereditária. Resultados de estudos em gémeos verdadeiros (homozigóticos) vieram tornar este ponto claro. Se a doença fosse definitivamente hereditária deveria afectar não apenas um, mas os dois gémeos. Mas as probabilidades de isto acontecer na Esclerose Múltipla não são de 100%, mas sim de 25%.
    No que diz respeito aos membros de uma família com Esclerose Múltipla, estes têm um risco maior de contrair a doença do que alguém sem familiares com Esclerose Múltipla. A nível mundial, observam-se diferenças nítidas na incidência da Esclerose Múltipla: afecta principalmente pessoas de raça branca.
    Este facto pode igualmente apontar para um factor hereditário entre as causas da Esclerose Múltipla. Presentemente, em algumas doenças hereditárias, sabemos que é possível assinalar a posição exacta onde o factor hereditário se localiza no nosso material genético, os cromossomas. Infelizmente, na Esclerose Múltipla a investigação científica ainda não chegou aos mesmos resultados.

 

  • Doença auto-imune
    Existe um quarto factor muito importante: o sistema de defesa do organismo, também conhecido como sistema imunológico. Pensa-se que a Esclerose Múltipla é uma doença «auto-imune»: são os próprios doentes que sofrem de Esclerose Múltipla que produzem reacções inflamatórias contra o seu próprio tecido nervoso, daqui o termo “auto”.
    O sistema imunológico, nestas doenças, volta-se contra partes do organismo, em vez de atacar os inimigos do exterior, tais como os vírus ou as bactérias que causam as doenças. De forma genérica, as reacções inflamatórias ocorrem apenas quando o sistema imunológico reage a vírus e bactérias que penetram no organismo. Mas em casos excepcionais, pode ocorrer uma reacção inflamatória contra tecidos ou partes do próprio organismo, tal como acontece com a mielina na Esclerose Múltipla ou com as articulações na doença reumática. Por esta razão tanto a Esclerose Múltipla como as doenças reumáticas são conhecidas por doenças auto-imunes.
    Um argumento a favor da Esclerose Múltipla como doença auto-imune reside no facto de ser possível causar lesões semelhantes à Esclerose Múltipla em animais de laboratório administrando-lhes uma solução de tecido nervoso que activa o sistema imunológico. Outro argumento resulta no facto de as doenças auto-imunes serem mais frequentes nas mulheres do que nos homens (como é o caso da Esclerose Múltipla). As mulheres têm, de facto, três a quatro vezes mais probabilidade de desenvolver a Esclerose Múltipla do que os homens.
  • A Esclerose Múltipla é causada por uma combinação de factores
    Crê-se, regra geral, que a Esclerose Múltipla seja causada por uma combinação de factores. É provável que as pessoas com Esclerose Múltipla, por razões hereditárias, sejam, até certo ponto, propensas a desenvolver a doença. Então, um factor ambiental desconhecido poderá activar o sistema imunológico, conduzindo a uma doença auto-imune, que ataca posteriormente a substância branca do sistema nervoso central.

Diagnóstico da Esclerose Múltipla

Não sabemos com exactidão qual a causa de Esclerose Múltipla. Pode ser diagnosticada através da história clínica, combinada com os resultados de exames auxiliares. Não é uma tarefa fácil.

Quando um doente apresenta sintomas durante vários anos, é mais fácil diagnosticar a doença. Torna-se muito mais difícil se até ao momento teve poucos problemas ou se se encontra nos estádios iniciais da doença. Neste último caso, a Esclerose Múltipla não pode, por vezes, ser diagnosticada com segurança. Só com o aparecimento de novos sintomas (Esclerose Múltipla por surtos) ou quanto se verifica um aumento gradual na intensidade dos sintomas (formas progressivas de Esclerose Múltipla) é que o diagnóstico pode ser estabelecido com maior certeza. As características dos sintomas e a sua evolução são os elementos mais importantes no diagnóstico. Para além da análise dos sintomas e da sua evolução, existem alguns exames médicos que podem ser muito úteis. São eles:

  1. Ressonância nuclear magnética (RNM)
  2. Punção lombar
  3. Estudo de Potenciais Evocados

1. Ressonância nuclear magnética (RNM)

A RNM, abreviatura de «Ressonância Nuclear Magnética», utiliza um forte campo magnético que cria imagens do cérebro e da medula espinal (ver figuras 6 a e 6 b). A ressonância magnética mostra lesões da substância branca. Este tipo de exame tem também revelado que os doentes com Esclerose Múltipla podem apresentar áreas de inflamação na mielina sem sintomas clínicos. Existe alguma correlação entre a ressonância magnética e a progressão da doença, mas a correlação não é muito clara e é difícil de interpretar. Isto significa, infelizmente, que não é possivel usar os resultados da ressonância para prever o desenvolvimento da doença.

figura6a                                          figura6b

2. Punção lombar

No exame conhecido como «punção lombar», utiliza-se uma agulha para recolher uma amostra de um líquido que envolve o cérebro e a medula espinal (o líquido céfalo-raquidiano).

Este líquido, nos doentes com Esclerose Múltipla, apresenta alterações específicas que traduzem a presença de inflamação: um aumento do número de células inflamatórias e da quantidade de proteínas inflamatórias. Diz-se que este exame é particularmente doloroso. Na prática e pelo que as pessoas dizem, depois de terem sido submetidas a este exame, parece ser muito menos aterrador. Em cerca de 20 por cento dos doentes submetidos a este exame surgem dores de cabeça e/ou tonturas, mas estes sintomas desaparecem após poucas horas.

3. Potenciais evocados
Através de um exame que consiste na medição dos «potenciais evocados» ou «respostas evocadas» podem ser avaliadas determinadas fibras nervosas. Na Esclerose Múltipla é possível ver se a condução de certos impulsos nervosos se encontra lentificada nas fibras nervosas (devido à desmielinização). Quanto maior for a desmielinização, mais lenta é a transmissão dos impulsos. Os PEV (PEV – Potenciais Evocados Visuais) verificam a velocidade a que o nervo óptico transmite os impulsos nervosos.

Neste exame, a pessoa que está a ser estudada olha para um determinado padrão num ecrã de TV. Através de uns eléctrodos (fios) encostados à parte posterior da cabeça é possível medir com precisão a velocidade a que o nervo óptico transmite impulsos nervosos.
No exame PES (PES – Potenciais Evocados Somato-sensoriais) são administrados ao doente pequenos choques eléctricos no tornozelo ou no pulso. Mais uma vez, a velocidade da transmissão dos impulsos nervosos é registada através de fios ligados à parte posterior da cabeça. O exame PEA PEA (PEA – Potenciais Evocados Auditivos) utiliza os mesmos métodos (estímulos sonoros, fios ligados à cabeça) para medir a velocidade a que as mensagens são transmitidas ao longo dos nervos auditivos e, em Potenciais Evocados Motores, estuda os impulsos nervosos transmitidos pelo sistema motor (o sistema que controla os movimentos do corpo).

Neste exame, é colocado um electroíman sobre a cabeça. Quando o íman é ligado, surge uma breve tensão nos músculos da perna ou do braço consoante o local da cabeça estimulado. A velocidade a que os músculos reagem a estes estímulos magnéticos (que são transmitidos através do cérebro e da medula espinal) pode ser medida com precisão com esta técnica.

A Esclerose Múltipla é uma doença crónica (de longa evolução). A Esclerose Múltipla não tem cura. Mas isto não significa que não possa ser tratada. Actualmente, existem muitos conhecimentos sobre a forma de lidar com a Esclerose Múltipla em surtos. Segue-se uma descrição das formas de tratamento mais comuns.

Tipos de Esclerose Múltipla

A divisão da Esclerose Múltipla em tipos clínicos de acordo com a progressão da doença é muitas vezes uma questão de avaliação em retrospectiva do que se passou até determinado momento. O facto de se ter, num determinado momento uma forma específica de Esclerose Múltipla, não significa que se possa prever com segurança como a Esclerose Múltipla poderá progredir no futuro.

O curso clínico que a doença pode tomar permite estabelecer uma distinção entre vários tipos de Esclerose Múltipla (figura 5):

  1. Surto-Remissão: caracteriza-se por surtos, seguidos por períodos de remissão com recuperação total ou parcial dos efeitos sentidos.
  2. Secundária Progressiva: este tipo de Esclerose Múltipla inicia-se com a forma clínica de surtos, e à medida que o tempo passa instala-se uma perda gradual das funções, sendo as recuperações frequentemente incompletas.
  3. Primária Progressiva: este tipo de Esclerose Múltipla não apresenta surtos, mas num período de anos vai-se instalando uma perda gradual e insidiosa das funções do corpo.
  4. Benigna: este tipo inicialmente caracteriza-se por Esclerose Múltipla por Surto-Remissão, mas depois de muitos anos a incapacidade continua praticamente inexistente ou muito reduzida.

figura5

Figura 5

Sintomas de Esclerose Múltipla

Os sintomas provocados pela Esclerose Múltipla variam muito. Dependem da localização da inflamação e da desmielinização no sistema nervoso central. No entanto alguns sintomas ocorrem com frequência, outros raramente são assinalados.

Fadiga

A fadiga é um sintoma muito frequente e bem conhecido da Esclerose Múltipla. Mas porque pode também ser um sinal de outras doenças, não é imediatamente identificado como sendo causado pela Esclerose Múltipla. A fadiga manifesta-se muitas vezes sob a forma de períodos que podem durar alguns meses, durante os quais a sua energia se esgota diariamente após um pequeno esforço. A fadiga ocorre quer na Esclerose Múltipla em forma de surtos, quer nos tipos mais progressivos da doença.

Neurite óptica

É uma inflamação do nervo óptico, (nervo da visão). Durante um ou dois dias poderá queixar-se de visão turva, embaciada. Por vezes poderá sentir dor por trás do olho, que aumenta quando o roda.
Há melhorias graduais, por vezes após várias semanas. Mas a recuperação nem sempre é completa. Em períodos de stress, quando estiver cansado ou quando tiver febre, poderá sentir novamente a visão turva, apesar de isto não significar que a Esclerose Múltipla está novamente activa.

Perda da força muscular nos braços e pernas

O sistema nervoso contém um grande número de fibras nervosas que controlam os movimentos – aquilo a que chamamos a função motora.
É assim muito provável que a Esclerose Múltipla cause lesões que atinjam esse sistema. Muitas pessoas com Esclerose Múltipla perdem força muscular durante o curso da doença.
A perda pode variar entre destreza reduzida (os dedos deixam de funcionar bem) até à paralisia. A perda de força muscular pode ocorrer não só em ataques temporários nos surtos, mas também como um processo gradual (progressivo) sem recuperação.
A perda gradual de força ocorre mais frequentemente nas pernas do que nos braços. Dependendo da gravidade, poderá necessitar de usar uma bengala, muletas ou uma cadeira de rodas. Mas lembre-se que 80% dos doentes com Esclerose Múltipla conseguem andar durante dez anos após ter sido diagnosticada a doença e não precisam de cadeira de rodas.

Alterações da sensibilidade

Também existe grande número de fibras nervosas que nos facultam o tacto. Tal como os sintomas de perda de força muscular, os sintomas que afectam o tacto podem ser transitórios (nos surtos) ou mais progressivos. Um tipo de sintomas nesta área pode ser uma sensação de encortiçamento nas pernas dando a impressão de que se está a «caminhar sobre algodão». Um outro tipo de sensação anormal é a de pele irritada, formigueiro ou picadas, sintomas que podem ocorrer em várias partes do corpo: por vezes no braço ou na perna, ou em parte deles, outras vezes na metade inferior do corpo a partir de determinado ponto (por exemplo, o umbigo). O doente poderá ainda sentir várias zonas do corpo simultaneamente dormentes.

Dor

A Esclerose Múltipla pode ser acompanhada de vários tipos de dor. Os sintomas que afectam o tacto podem ser de dor ou desagradáveis. Além disso, a Esclerose Múltipla afecta muitas vezes um dos nervos da face causando dores faciais, um estado conhecido como «nevralgia do trigémeo». Se tiver dificuldade em caminhar por causa da Esclerose Múltipla, isto poderá causar-lhe dores pela sobrecarga dos músculos das costas e das pernas.
A perda de força muscular nas pernas e nos braços também pode ser acompanhada por uma contractura em diversos músculos: isto é conhecido como «espasticidade» e pode provocar dores.

Alterações urinárias e intestinais

Ocasionalmente as pessoas com Esclerose Múltipla podem ter dificuldade em urinar ou em esvaziar completamente a bexiga (a isto chama-se «retenção» urinária). Mas o que sucede com maior frequência é que a expulsão da urina ocorre imediatamente mal se sentem os primeiros sinais de a bexiga estar cheia. Chama-se a isto «urgências urinárias» ou «bexiga espástica».
Também é possível que apresente uma combinação destas condições e à existência de uma delas ou das duas chama-se bexiga neurogénea. Existem menos problemas com o controlo dos intestinos.
Mas porque alguns doentes com Esclerose Múltipla têm menor mobilidade, podem ocorrer problemas de obstipação. A incontinência dos intestinos, ou dificuldade em reter as fezes é menos comum.

Problemas sexuais

Também pode ter problemas na área sexual, especialmente se sentir dificuldade em controlar a bexiga ou os intestinos ou tiver alterações de sensibilidade.
Homens que tenham Esclerose Múltipla podem ter dificuldade em obter ou manter a erecção. Na mulher, a Esclerose Múltipla causa muitas vezes perda de sensibilidade nos órgãos sexuais, dores durante a relação, incapacidade de atingir um orgasmo ou redução na quantidade de muco produzido durante o coito. Estas queixas podem criar tensão no relacionamento com o seu parceiro/a. Falar do assunto abertamente, em geral dissipa os problemas, diminuindo a tensão que possa sentir durante o acto sexual, sentindo que é aceite pelo seu parceiro/a tal como é.

Equilíbrio/coordenação
A parte do cérebro, conhecida como cerebelo, controla todos os movimentos que fazemos e, se necessário, corrige-os. Distúrbios neste órgão podem levar a dificuldade em manter o equilíbrio ou a coordenação. Pode, por exemplo, ter dificuldade em agarrar pequenos objectos, surgindo ao fazê-lo um tremor da mão. Poderá começar a caminhar como se estivesse embriagado ou sentir dificuldade em agarrar de forma correcta numa caneta e escrever de forma clara. Estes problemas também poderão ser transitórios (durante um surto) ou ser mais permanentes numa forma gradualmente progressiva de Esclerose Múltipla.

Alterações cognitivas

Podem surgir problemas com a memória recente, em especial em pacientes que sofrem de Esclerose Múltipla há bastante tempo. Também poderá sentir dificuldade em concentrar-se, o que poderá complicar a realização de várias tarefas em simultâneo. Poderá, igualmente sentir-se incapaz de resolver mentalmente problemas aritméticos como fazia antes.

Alteração de humor e depressão

Antigamente pensava-se que a Esclerose Múltipla era acompanhada de uma jovialidade patológica (conhecida como «euforia»), Mas, na verdade, a depressão é mais comum às vezes directamente relacionada com a Esclerose Múltipla, mas mais frequentemente como uma reacção contra o facto de ter de aprender a lidar com a doença.

Os sentimentos de depressão podem também estar ocultos por uma aparente jovialidade.

Os efeitos que todos estes sintomas têm na qualidade de vida variam muito. Dependem bastante da forma como vive estes sintomas e como consegue lidar com eles. Com o tempo, acabará por aprender a lidar com eles e a compensá-los, realizando coisas de que ainda é capaz e descobrindo novas capacidades.

Não irá acontecer de um dia para o outro: é um processo que requer esforço e tempo, não só da sua parte, mas de todos os que o rodeiam (companheiro/a, filhos ou outros membros da família). Contacte as associações de doentes, os grupos de apoio nos hospitais ou grupos informais para partilhar as dificuldades e conquistas. Isso ajudá-lo-á a valorizar as capacidades, relativizar alguns problemas e aumentar a qualidade de vida.

Qual o tratamento para a Esclerose Múltipla?

A EM é uma doença crónica, o que quer dizer que dura uma vida e que ainda não tem cura. Mas existe tratamento, tanto a nível terapêutico como de reabilitação. Segue-se uma descrição das formas de tratamento mais comuns.

(Em actualização)

Corticosteróides

Os corticosteróides, substâncias relacionadas com as hormonas produzidas pelas glândulas supra-renais, são usadas há muito tempo como tratamento importante para encurtar a duração dos surtos de EM. Os corticosteróides são conhecidos pela sua capacidade de combater a inflamação. Não têm, contudo, qualquer efeito na progressão da EM, mas reduzem a duração de um surto: diminuem o tempo necessário até à recuperação. Os corticosteróides podem ser administrados de vários modos. Habitualmente, é usada uma perfusão venosa (o medicamento entra directamente na corrente sanguínea) para administrar o corticosteróide conhecido como metilprednisolona. Geralmente o tratamento dura três a cinco dias. O uso prolongado de corticosteróides (i.e., durante meses seguidos) pode provocar efeitos secundários.
Os efeitos produzidos pelos corticosteróides são mais notórios durante um surto de EM que se estabeleceu num curto intervalo de tempo – em poucos dias.
O efeito nos sintomas que afectam a força muscular ou nos que afectam a visão é frequentemente melhor do que nos casos de sintomas que afectam o sentido do tacto ou do equilíbrio.
Nem todos os surtos de EM são tratados com corticosteróides. Os surtos menos graves não são habitualmente tratados: o doente apenas repousa e aguarda a melhoria espontânea.
Para além do descanso e do uso de corticosteróides, algumas descobertas recentes provaram que certas substâncias têm a capacidade de prevenir surtos ou reduzir a sua gravidade.
Estas substâncias são sumariamente descritas seguidamente.

Interferões
Os Interferões são proteínas libertadas pelo corpo quando ocorre uma inflamação e que podem reduzir ou estimular a inflamação. Existem três grupos de Interferões: alfa, beta e gama. Os Interferões beta parecem ser os melhores para reduzir a actividade inflamatória na EM. Existem dois tipos de Interferões beta: o Interferão beta-1a e o Interferão beta-1b. Até à data ainda não se realizaram estudos comparativos da eficácia destes dois tipos de Interferões, mas ambos parecem reduzir o risco de ocorrência de surtos na EM em cerca de 30 por cento. A gravidade dos surtos é menor e os danos na substância branca, observados em ressonância magnética, são também reduzidos.
Os estudos efectuados com o Interferão beta-1a mostram também que existe um efeito benéfico na progressão da incapacidade: a sua diminuição.
Ambos os tipos de interferão devem ser administrados por injecção.
O Interferão beta-1b foi testado em doses administradas em dias alternados sob a pele (injecção subcutânea). O Interferão beta-1a foi testado de duas formas: injecção semanal no tecido muscular (intramuscular) ou três vezes por semana de forma subcutânea. Se o médico assistente entender apropriado, as injecções podem ser aplicadas pelo próprio doente ou por algum familiar que tenha recebido formação para o efeito.
Os efeitos secundários produzidos pelos Interferões beta podem dividir-se em efeitos locais (que se produzem no local onde a injecção é administrada) e em efeitos secundários sistémicos. No local da injecção, a pele pode reagir (com vermelhidão e/ou edema). As injecções intramusculares uma vez por semana provocam menos efeitos secundários locais. Os efeitos secundários locais às injecções subcutâneas desaparecem na maior parte das pessoas (mas não em todas) após algum tempo. Os efeitos secundários sistémicos com Interferão têm características semelhantes à gripe – arrepios, dores musculares, dores articulares. Este tipo de reacção ocorre normalmente nas primeiras horas após a injecção, ou nas primeiras semanas ou meses depois do início do tratamento.
O seu médico pode aconselhá-lo a tomar alguns medicamentos para a febre e dores. Se for tomado paracetamol ou algum medicamento similar (aspirina ou ibuprofeno) concomitantemente com a administração das injecções de Interferão, estas reacções semelhantes à gripe podem ser evitadas. Administrar a injecção ao fim do dia pode igualmente ajudar a evitar os sintomas de tipo gripal que ocorrem durante o dia.

Existem algumas diferenças entre os vários tipos de Interferão beta disponíveis: alguns devem ser armazenados a determinadas temperaturas (entre 8 e 15 graus Celsius). Na maior parte dos países europeus estão já registados os três tipos de Interferão beta e podem ser prescritos através do seu neurologista.

Copolímero1 (glatiramer acetate ou COP-1)
Foi demonstrado que outra substância, o Copolímero 1, actua como o Interferão beta, protegendo os doentes da ocorrência de surtos. A gravidade dos surtos também é reduzida. O Copolímero 1 é uma proteína artificial que deve ser injectada por via subcutânea, diariamente. Estão em curso estudos sobre o efeito do Copolímero 1 nas lesões da substância branca avaliada por ressonância magnética. Na maior parte dos países europeus, o Copolímero 1 ainda não está registado e não está disponível, mas está registado e pode ser obtido nos Estados Unidos.

Tratamento das formas mais progressivas de EM 
Existem menos meios para tratar as formas mais progressivas de EM.
Nos casos em que há progressão gradual da doença, tem-se tentado avaliar se o tratamento mensal com metilprednisolona (um corticosteróide) é eficaz. Não foi ainda provado cientificamente qualquer benefício conseguido com este tratamento. Usam-se, por vezes, para tentar evitar a progressão da EM, medicamentos que em doses mais elevadas são utilizados para combater o cancro: estes são conhecidos como citostáticos, tais como a azatioprina, metotrexato e ciclofosfamida. São utilizados no tratamento da EM em doses mais baixas do que as usadas no tratamento do cancro. Caso os esteja a usar, o seu médico pode necessitar que faça exames regulares ao fígado e ao sangue, uma vez que estes fármacos podem causar alterações no sangue e na função hepática.
Uma nova descoberta poderá se encorajadora: está a ser estudado o efeito do Interferão beta na EM progressiva secundária. O Interferão beta 1b tem efeito benéfico na progressão desta forma de doença. Contudo, ainda não foram realizadas experiências suficientes com o interferão beta na EM progressiva primária.

2017-11-26T13:08:05+00:00